Resposta aberta à querida C. (do Lolas)
Antes de mais, o meu trabalho é contextualmente diferente do teu, e depois devo relembrar-te que ainda andava eu a processar as minhas (muitas!) questões existenciais, já davas aulas. Sim, és uma moça certinha (e proveniente de uma família equilibrada, refere o Lolas amíude, com notória admiração!), embora não sejas aborrecida... não te apoquentes!
Acontece que neste ponto és uma excepção, infelizmente. A mim, pessoalmente, o que traz enamorada pela minha profissão e pelos adolescentes é o facto de poder contríbuir (ainda que modestamente) para que algumas das suas angústias tenham resposta, ou pelo menos direccioná-los nesse sentido. Escusado será dizer que tenho alguma predilecção pelos mais complexos e atormentados, pelos idealistas e algo desajustados. São mais desafiantes, mas igualmente mais recompensadores.
Nesta idade, uma palavra de compreensão ainda vale muito, ainda tem algum poder. Não existem ainda aqueles sofrimentos cristalizados, resistentes à ajuda do outro. Eles ainda acreditam, mesmo quando desconfiam. Acreditam no amor, na amizade, na justiça, mesmo (e especialmente!) quando o negam, quando lhes renunciam.
Não tenho ilusões, sei que o trabalho com adolescentes serve também como uma expiação pessoal, um meio de compensar a falta que eu própria senti de uma palavra que me afirmasse o meu valor enquanto pessoa, que me mostrasse algum direcção. Sim, no fundo é uma troca.
Também fazem-me sentir sempre (mais!) jovem, fazem-me rir com as suas piadas estúpidas e ocasionalmente brilhantes, surprendem-me com a sua perspicácia e emocionam-me com os seus sonhos. Embora os respeite a todos, por alguns tenho um carinho especial. Descobri que há meninos com histórias de vida muito difíceis, que acarretam muito sofrimento, muita revolta, por vezes vontade de desistir. E fico mais que feliz quando me deixam aproximar e, ultrapassada a atitude de oposição inicial, me vão bater à porta do gabinete para partilharem comigo as coisas que trazem dentro deles e que precisam de processar, de externalizar. A S. conta como faltava às aulas dias a fio, enganando tudo e todos, para ficar a olhar a água do rio, e de como esta a atraía, o D. explica porque não suporta a ideia de um homem bater numa mulher, o R. partilha a frustração sentida pela justiça que tarda e pela mudança de planos que um automobilista alcoolizado pode provocar numa família. "Não há justiça neste mundo, mesmo (...) e eu só pergunto porquê? Porquê a mim?!"; "Pois não querido, infelizmente o mundo é mesmo assim. Tem muitas coisas boas, mas justo nem sempre é (...) nem vale a pena pensar muito nisso, não há resposta R., por mais que a procuremos".
A minha personalidade jovial e o facto de ser uma menina-mulher é uma vantagem para lidar com eles, entendem-me como uma adulta pouco chata, assim meia excêntrica e pouco convencional, que diz coisas engraçadas e responde a (eventuais!) provocações com piadas ainda mais sarcásticas que as deles. Uma adulta que lhes explica porque é importante não se ser analfabeto funcional, e que a droga afinal nem é assim tão fixe, mas sem dramas, com naturalidade e sem condenações. Respeitam-me porque sentem que eu também os respeito, acabam por confiar em mim quando percebem que lhes quero bem. Trata-se de uma conquista. Isto é igualmente uma gratificação para mim, que não tendo vocação para madre Teresa (cof, cof!), tenho uma grande capacidade de amar, no sentido biblíco da coisa. Tenho oportunidade de praticar este impulso que sinto, e isso faz-me muito feliz. Felicidade mesmo, no sentido mais literal da palavra.
Para finalizar, embora ressalvendo a diferença de objectivos das nossas funções profissionais, apostava um dedinho em como és uma excelente professora, humana e preocupada. Apesar de já possuír informações fidedignas quanto ao teu profissionalismo, não poderia ser de outra forma, tendo em consideração a pessoa extremamente sensível e bem-formada que és. E aposto o dedinho da outra mão em como sabes, tão bem quanto eu, o bom que é conhecer jovens brilhantes e promissores, seres extremamente dotados e criativos, pessoas que nos fazem acreditar que o futuro ainda poderá (mesmo!) vir a ser melhor.
Acontece que neste ponto és uma excepção, infelizmente. A mim, pessoalmente, o que traz enamorada pela minha profissão e pelos adolescentes é o facto de poder contríbuir (ainda que modestamente) para que algumas das suas angústias tenham resposta, ou pelo menos direccioná-los nesse sentido. Escusado será dizer que tenho alguma predilecção pelos mais complexos e atormentados, pelos idealistas e algo desajustados. São mais desafiantes, mas igualmente mais recompensadores.
Nesta idade, uma palavra de compreensão ainda vale muito, ainda tem algum poder. Não existem ainda aqueles sofrimentos cristalizados, resistentes à ajuda do outro. Eles ainda acreditam, mesmo quando desconfiam. Acreditam no amor, na amizade, na justiça, mesmo (e especialmente!) quando o negam, quando lhes renunciam.
Não tenho ilusões, sei que o trabalho com adolescentes serve também como uma expiação pessoal, um meio de compensar a falta que eu própria senti de uma palavra que me afirmasse o meu valor enquanto pessoa, que me mostrasse algum direcção. Sim, no fundo é uma troca.
Também fazem-me sentir sempre (mais!) jovem, fazem-me rir com as suas piadas estúpidas e ocasionalmente brilhantes, surprendem-me com a sua perspicácia e emocionam-me com os seus sonhos. Embora os respeite a todos, por alguns tenho um carinho especial. Descobri que há meninos com histórias de vida muito difíceis, que acarretam muito sofrimento, muita revolta, por vezes vontade de desistir. E fico mais que feliz quando me deixam aproximar e, ultrapassada a atitude de oposição inicial, me vão bater à porta do gabinete para partilharem comigo as coisas que trazem dentro deles e que precisam de processar, de externalizar. A S. conta como faltava às aulas dias a fio, enganando tudo e todos, para ficar a olhar a água do rio, e de como esta a atraía, o D. explica porque não suporta a ideia de um homem bater numa mulher, o R. partilha a frustração sentida pela justiça que tarda e pela mudança de planos que um automobilista alcoolizado pode provocar numa família. "Não há justiça neste mundo, mesmo (...) e eu só pergunto porquê? Porquê a mim?!"; "Pois não querido, infelizmente o mundo é mesmo assim. Tem muitas coisas boas, mas justo nem sempre é (...) nem vale a pena pensar muito nisso, não há resposta R., por mais que a procuremos".
A minha personalidade jovial e o facto de ser uma menina-mulher é uma vantagem para lidar com eles, entendem-me como uma adulta pouco chata, assim meia excêntrica e pouco convencional, que diz coisas engraçadas e responde a (eventuais!) provocações com piadas ainda mais sarcásticas que as deles. Uma adulta que lhes explica porque é importante não se ser analfabeto funcional, e que a droga afinal nem é assim tão fixe, mas sem dramas, com naturalidade e sem condenações. Respeitam-me porque sentem que eu também os respeito, acabam por confiar em mim quando percebem que lhes quero bem. Trata-se de uma conquista. Isto é igualmente uma gratificação para mim, que não tendo vocação para madre Teresa (cof, cof!), tenho uma grande capacidade de amar, no sentido biblíco da coisa. Tenho oportunidade de praticar este impulso que sinto, e isso faz-me muito feliz. Felicidade mesmo, no sentido mais literal da palavra.
Para finalizar, embora ressalvendo a diferença de objectivos das nossas funções profissionais, apostava um dedinho em como és uma excelente professora, humana e preocupada. Apesar de já possuír informações fidedignas quanto ao teu profissionalismo, não poderia ser de outra forma, tendo em consideração a pessoa extremamente sensível e bem-formada que és. E aposto o dedinho da outra mão em como sabes, tão bem quanto eu, o bom que é conhecer jovens brilhantes e promissores, seres extremamente dotados e criativos, pessoas que nos fazem acreditar que o futuro ainda poderá (mesmo!) vir a ser melhor.
Will somebody wear me to the fair?
Will a lady pin me in her hair?
Will a child find me by a stream?
Kiss my petals and weave me through a dream
For all of these simple things and much more a flower was born
It blooms to spread love and joy faith and hope to people forlorn
Inside every man lives the seed of a flower
If he looks within he finds beauty and power
Ring all the bells sing and tell the people everywhere that the flower has come
Light up the sky with your prayers of gladness and rejoice for the darkness is gone
Throw off your fears let your heart beat freely at the sign that a new time is born
Will a lady pin me in her hair?
Will a child find me by a stream?
Kiss my petals and weave me through a dream
For all of these simple things and much more a flower was born
It blooms to spread love and joy faith and hope to people forlorn
Inside every man lives the seed of a flower
If he looks within he finds beauty and power
Ring all the bells sing and tell the people everywhere that the flower has come
Light up the sky with your prayers of gladness and rejoice for the darkness is gone
Throw off your fears let your heart beat freely at the sign that a new time is born
Nota de Redacção: Dentro de cada homem vive a semente de uma flor :)
Comentários
Muito obrigada. Também sei (não é uma questão de acreditar, mas de saber - e olha que sou como o S. Tomé!!!) que "Inside every man lives a seed of a flower". O meu descrédito não se alimenta das dificuldades diárias a que tenho de fazer face cada vez que fecho a porta da sala de aula e me vejo perante 28-30 criaturas. Estas criaturas têm problemas, de facto. Mas estas criaturas também têm - ainda - a humildade de procurar ajuda. O meu descrédito, vai para esta bolha sufocante que envolveu todo o processo de ensino e que o transformou numa brincadeira. Brincamos às escolinhas, mas não ensinamos, função primária e primordial de todos os professores. Andamos preocupados com o modelo finlandês e esquecemo-nos do essencial! Sou certinha, dizes tu, com alguma razão (?). Mas sabes o que gosto? De passar os intervalos com os meus alunos, no espaço do recreio a dar continuidade às conversas que, recorrentemente, surgem nos últimos minutos da aula. Também eu falo com eles sobre amor, droga, família... E sobre o que surgir... Enquanto puder vou fazê-lo.
Quando é que pomos a conversa em dia?
Beijos
Pelo menos eu acho.
beijinhos *